Lembra quando conversávamos?
Edna Feitosa
Quando eu penso em quando conversávamos,
quero dizer,
conversávamos compridamente,
sobre coisas sonhadas e sonháveis e eu me acostumei com o som de sua voz,
com o teu jeito amoroso de me falar de amor sem que eu pedisse e me sorrir numa cumplicidade
quase sem palavras.
Eu me acostumei com tudo, que mais tarde me faria tanta falta.
Enquanto conversávamos, eu pensava que era bom que tudo acontecesse, que o futuro estivesse tecendo seus dias entre chuvas,
sóis e luas cheias.
Eu tenho saudade daquele tempo;
eu sabia das tuas músicas favoritas,
das tuas inclinações e ambições.
Sabia dos planos, das conquistas, do cansaço, do filme que marcou, das alegrias e revoltas.
E a minha vida nem era essa coisa absurda que ficou.
Nela, os espaços eram preenchidos pelas tuas palavras, tua ternura curta, dolorida e branca.
Depois veio o silêncio cruel.
Um silêncio que me devolveu a um mundo que eu havia esquecido que pertencia, trazendo de volta o não sentido das coisas.
Mas eu esperei...
Às vezes num contido silêncio;
noutras vezes, não agüentando, te procurava como que querendo manter a todo custo uma história que não existia mais...
( e eu nem me lembro direito mais
como era antes...)
Queria continuar aquela conversa que pensei, nunca terminaria;
queria continuar a trocar impressões de vida!
Depois veio algo bem maior que o silêncio, doendo muito mais que todas as palavras frias:
o vazio!
Hoje, todas as ruas e cidades nos separam.
Os homens continuam matando e sendo mortos nas guerras.
As crianças continuam nascendo,
gente continua chegando ou partindo cheias de saudade.
Tudo igual pelo mundo, tudo absolutamente igual.
Só tua voz é que saiu de viagem e,
sem explicação nenhuma,
não voltou nunca mais!
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